quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Crónica da Saudade

Quero aquela pista de carros em forma de oito, com a qual, brincava horas a fio sem nunca me cansar; quero roubar moedas do porta-moedas da minha mãe para comprar carteiras de cromos no Passeira; quero roubar fruta da banca da Sr.ª Micas; quero aprender a andar de bicicleta com as rodinhas atrás, e no primeiro dia que andar sem elas quero cair em frente a Ramadinha e esmurrar os joelhos; quero comer panados com arroz malandrinho; quero a minha garagem de carrinhos com elevador; quero natais em família com todos a jogar ao loto; quero os meus avós todos de volta; quero ir ao domingo a tarde de mão dada com a minha mãe deitar comida aos patos; quero festejar os três golos do João V. Pinto contra o Sporting; quero andar a bulha com o meu primo; quero ir a pé para o treino com os amigos de sempre e no fim do treino ficar a cantar no chuveiro; quero fazer colecção de calendários; quero fumar as escondidas; quero subir as árvores; quero fazer cabanas; quero as austrálias de volta; quero apaixonar-me por ti e chorar como um menino quando te perdi; quero ouvir a campainha da bicicleta do meu avô Z.; quero ler as aventuras dos cinco vezes sem conta; quero jogar futebol no recreio com bolas de papel e fita-cola; quero brincar as escondidas na minha rua; quero ler pela primeira vez o Eça, o Torga e o Pessoa e ficar fascinado; quero ter aulas com aquela professora de história do 7º ano que tinha uma mini-saia; quero ter as minhas primeiras chuteiras e ir estreá-las no campo do borralho com o meu pai num domingo de manhã; quero jogar pingue-pongue no Centro; quero ir a feira popular comer caracóis e andar no comboio fantasma; quero passar noites em claro a falar no terraço dos prédios amarelos em braga; quero ir roubar uvas ao monte e correr pelo meio dos campos do milho; quero voltar a ser como o Tom Sawyer; quero acordar muito cedo aos sábados de manhã para ver os desenhos animados; quero ir pela mão do meu avô M. buscar musgo para o presépio na altura do natal e moliço para o magusto na altura do S. Martinho; quero… e quero… e quero…


continua...

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